O dilema da sereia
Ao contrário do que muita gente pensa, a sereia não é um ser
solitário. Ela não se diverte em matar aqueles que a amam e nem sofre com sua
condição de metade gente metade peixe.
Na verdade, ela sofre do mesmo problema das mulheres modernas:
a incompreensão.
Afinal de contas, essas mulheres têm descoberto que no fundo
elas são sereias. Não são as sereias que sofrem por serem metade peixe e metade
mulher. As mulheres que sofrem por terem se esquecido de sua natureza aquática.
Mesmo porque o mar é a metáfora mais perfeita do
inconsciente feminino: profundo, traiçoeiro, mas rico e belo. E é ele que
alimenta o que está na superfície.
O mar na verdade, existe dentro da mulher, e quando ela se
esqueceu de sua natureza, se esqueceu de seu mar, de sua fonte primeira, ela
perdeu sua cauda, e se perdeu de si mesma.
Ela não é solitária, ela só não teme enfrentar o mar, e não
precisa de ninguém para carrega-la nessa viagem. Por que os homens morrem?
Simplesmente porque se perdem nesse mar.
Mas ainda há de haver aqueles que se arriscam a se aventurar
nas profundezas do feminino. E pode ter certeza, ao retornarem, o que trazem
são experiências maravilhosas e esse mar nunca mais os deixará.
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